O que é adoração segundo a Bíblia
Adoração é uma palavra cada vez mais presente no meio evangélico. Nos cultos, nos musicais, nos congressos etc., ela sempre aparece. Mas, qual o significado de adoração? Qual a relação dela com as músicas e com as mãos estendidas? Afinal, qual o significado de adoração à luz da Bíblia?
A palavra adoração aparece 278 vezes no AT sendo a palavra שָׁחָה (xarrá) é a mais usada. Adorar (שָׁחָה) significa: curvar-se em adoração, inclinar-se para baixo, fazer homenagem, ajoelhar-se em reverência a, deitar-se, prostrar-se, adorar etc.
Abraão foi o primeiro a citar adoração na Bíblia. “… Ficai-vos aqui com o jumento, e eu e o moço iremos até ali; e havendo adorado (וְנִֽשְׁתַּחֲוֶ֖ה), tornaremos a vós.” (Gn 22,5). Decidido a obedecer à ordem recebida do Senhor, ele levou o seu próprio filho para ser sacrificado. Abraão reconhecia a autoridade e a soberania do Senhor sobre qualquer pessoa ou circunstância por isso, apesar da ordem ser “oferece-o ali em holocausto” (Gn 22,2), Abraão declara “… iremos … e havendo adorado, tornaremos …”. Ele não disse “e havendo sacrificado, tornaremos”, mas sim, “havendo adorado”. O sacrifício, em si, não era a adoração, mas fazia parte dela.
A confiança de Abraão no Senhor era tanta que ele foi capaz de afirmar “tornaremos”, no plural. “Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito. Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar;” (Hebreus 11,17-18). Segundo essa carta, Abraão 1) confiava na promessa que lhe fora feita pelo Senhor; 2) sabia que Deus tinha poder até mesmo sobre a morte por isso, não havia dúvidas em seu coração quanto a oferecer a vida de seu filho em sacrifício a alguém tão justo e poderoso.
Das 100 palavras traduzidas como adoração no Novo Testamento mais de 60% delas têm a sua origem em προσκυνέω (proscuneó) cujo significado é: beijar o chão, prostrar-se diante de um superior, adoração, pronto “para cair / prostrar-se a adorar de joelhos”, fazer uma reverência, metaforicamente “o beija-terra”. Adorar (προσκυνέω) sugere a vontade de fazer todos os gestos físicos necessários de reverência.
Nas palavras de Jesus, segundo o Evangelho de João, “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram (προσκυνηταὶ) o adorem (προσκυνήσουσιν) em espírito e em verdade.” (Jo 4,24). Jesus está explicando a mulher samaritana que a adoração a Deus não está ligada a um local porque Deus não se faz presente em lugares ou construções feitas por mãos humanas, seja no monte, em Samaria, ou no templo, em Jerusalém. “… nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.” (João 4,21).
Para Jesus, a adoração também não está na liturgia ou nos ritos dos cultos. “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.” (Jo 4,23) A expressão “verdadeiros adoradores” sugere haver adoradores não verdadeiros. Isto é, o servo se curva (em adoração) diante do seu Senhor, mas o curvar-se, símbolo de submissão, é consequência de um coração submisso daquele que adora.
Ora, Deus é espírito, portando a verdadeira adoração vem do espírito, ou da alma, do adorador. (Jo 4,25). “A verdadeira adoração deve ser espiritual” (Charles J. Ellicott), porque a “espiritualidade da natureza divina está fundamentada à necessidade da espiritualidade do culto … a adoração … deve participar de sua natureza: como sua natureza é espiritual, sua adoração, para ser aceitável, deve ser também espiritual”. (Joseph Benson). Ou nas palavras de Matthew Henry: “O espírito ou a alma do homem, influenciada pelo Espírito Santo, deve adorar a Deus e ter comunhão com ele”.
Seja no Antigo ou no Novo Testamento, o ato de adorar vai muito além da manifestação externa de prostrar-se e de colocar o rosto no pó. O ato é, na realidade, uma reação natural de quem reconhece a autoridade do Senhor e submete-se a ela. O cair de joelhos revela o desejo, do servo, de humilhar-se diante daquele que tem todo poder sobre si, o seu Senhor.
Resumindo: adoração envolve três elementos. 1) O adorado; 2) O adorador; 3) A forma de adorar. Desses três elementos o terceiro é o menos relevante. Deus deve ser adorado pelo que ele é. O adorador deve adorá-lo porque reconhece e se submete aquele a quem adora. O cair de joelhos é consequência do primeiro (Deus) sobre o segundo (o homem). Se, por outro lado, este não se submete àquele ou não o reconhece como soberano não há adoração genuína.
Abrão adorou porque confiou no poder de Deus. Moisés adorou porque não podia contemplar a glória do Senhor (Êx 3,6). Simeão adorou porque viu a promessa de Deus se cumprir na pessoa do menino Jesus (Lc 2,29-30). Tomé foi o primeiro a reconhecer ser Jesus, Deus. “E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor (Κύριός*) meu, e Deus meu!” (João 20,28). Finalmente, segundo a revelação dada a João, no dia do reencontro com o Senhor Jesus “os vinte e quatro anciãos, e os quatro animais, prostraram-se e adoraram a Deus”. (Ap 19,4).
Conclusão: A adoração cristã, dos verdadeiros adoradores, faz parte da nova vida em Cristo. Começa no dia em que o redimido encontra com seu Redentor, Jesus, permanece durante toda a vida terrena e prossegue por toda eternidade.
* Κύριός: aquele a quem uma pessoa ou coisa pertence, sobre o qual ele tem o poder de decisão.